| Não é um assunto consensual,   mas é uma questão de saúde pública. A vacinação não é obrigatória em   Portugal, basta assinar um termo de responsabilidade para não usar o boletim   de saúde. Os técnicos defendem que as vacinas são "seguras e eficazes",   todavia, há movimentos antivacinas - com significativa expressão na Holanda e   França - que já conquistaram "adeptos" no nosso país. Há quem   desconfie dos benefícios da profilaxia, apresentando argumentos éticos,   filosóficos e religiosos para justificar a decisão. Além disso, os maiores   cuidados de higiene e mudança de hábitos das sociedades contemporâneas são   usados para explicar a evidente redução da mortalidade infantil, verificada   nos últimos anos.
 "Vários médicos defendem que o corpo de uma criança pequena é muito   frágil para suportar os anticorpos de uma vacina. Só dei a vacina da BCG   [contra a tuberculose] à minha filha mais velha, porque não estava informada.   Depois falei com a minha médica e comecei a recusar todas as outras",   garantia, há poucos meses, uma mãe de três crianças de 10, 9 e 5 anos, em   declarações à Lusa. "Instalou-se o hábito de que é obrigatória a vacinação,   razão por que levo sempre um termo de responsabilidade da médica quando vou   fazer a inscrição numa escola", acrescentava.
 
 O pediatra Mário Cordeiro garante que as vacinas "são seguras e   eficazes". "As vacinas são produtos externos, é verdade. E alteram   a imunidade, também é verdade. Só que alteram num bom sentido, ou seja, no   sentido de evitar as doenças para que são dirigidas e que podem, em muitos   casos, ser graves". O médico considera que a decisão de vacinar ou não   compete sempre aos pais, mas, em seu entender, há questões importantes a   ponderar. "Os pais são sempre as pessoas que decidirão, mas também é bom   pensar que a sua decisão acarreta responsabilização. Se amanhã uma criança   não é vacinada porque os pais não o desejam, e se morre ou fica com sequelas   por causa de uma meningite, sarampo, tosse convulsa ou difteria, o assunto   será mais complicado de gerir, do ponto de vista psicológico, moral e até   jurídico."
 
 Na opinião do pediatra, a decisão tem de ser bem sustentada. "Se alguns   pais não querem vacinar os filhos porque acham que tudo se resume a pressões   da indústria farmacêutica, porque não querem sujeitar a criança a eventuais efeitos   secundários, ou ainda porque têm medo que, a longo prazo, as vacinas possam   trazer complicações graves, como cancro ou outras doenças, também é bom que   ponderem o que poderá acontecer se não os vacinarem. Não há nada que seja só   bom", avisa.
 
 "A ideia de que as vacinas `mexeriam' com a nossa imunidade, podendo   abrir uma caixa de Pandora incontrolável, é errada. E as vacinas estão   desenhadas para doenças que são ou podem ser graves", aponta. Mário   Cordeiro lembra, a propósito, que a criança "se vacina todos os dias,   especialmente se estiver num atendimento diurno (ama ou infantário), com   muitas bactérias, vírus e outros micro-organismos". "As vacinas que   são administradas funcionam de modo semelhante. No fundo, é fazer contactar a   criança com o micróbio, ou partes dele de modo a que se consiga obter a   imunidade, ou seja, o desenvolvimento  de defesas contra ele   (anticorpos), mas sem os inconvenientes e perigos da doença",   exemplifica.
 
 "O Plano Nacional de Vacinação (PNV) português tem constituído uma das   formas mais eficazes e eficientes de medicina preventiva e muitos milhares de   pessoas estão vivas e de boa saúde graças às vacinas e aos vacinadores".   "Com algumas doenças a desaparecer - precisamente as que são evitáveis   pela vacinação -, pode passar a ideia de que já não vale a pena vacinar. Nada   de mais errado. É continuando a vacinar que se evitarão essas doenças",   alerta Mário Cordeiro.
 
 Paula Ferreira, do Departamento de Imuno-Fisiologia e Farmacologia do   Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, não entende a decisão de não   vacinar as crianças e fica preocupada com o desconhecimento que existe a este   nível. "Uma criança que não é vacinada é que é um risco", comenta.   "A vacinação é o melhor meio para erradicar uma doença",   acrescenta. A teoria da higiene e da mudança de hábitos, habitualmente   apresentada como uma espécie de substituta da vacinação, não a convence.   "Isso não é suficiente". "As crianças devem ser   vacinadas", reforça.
 
 "A medicina tradicional chinesa nunca teve uma posição oficialmente   contra as vacinas. Em qualquer intervenção da medicina convencional deve   pesar-se a relação riscos/benefícios". Pedro Choy defende que a decisão   de vacinar ou não uma criança é dos pais e que essa posição deve ser bem   informada. "Existem vacinas indispensáveis. Se não houvesse vacinas,   havia epidemias graves, que não era possível erradicar do Mundo como, por   exemplo, a raiva". Em seu entender, é necessário analisar as vantagens e   desvantagens. "A medicina convencional caracteriza-se por fazer mal para   fazer bem, ter riscos para ter benefícios", sublinha. Pedro Choy não   hesitaria em recomendar a vacina contra a tuberculose. "Mas tenho   dúvidas em relação a uma criança ser vacinada contra a hepatite B". Isto   porque, explica, há uma probabilidade, mesmo que seja ínfima, de   "contrair a doença através da vacina".
 
 O atual Programa Nacional de Vacinação, processo que começou a ser   implementado em Portugal em 1965, entrou em vigor em 2006. Foram feitas as   alterações que se julgaram necessárias como, por exemplo, a introdução da   vacina contra a meningite C. A subdiretora da Direção-Geral de Saúde, Graça   Freitas, esclarece, antes de tudo, que não subscreve a ideia de que há mais   pais a recusar a vacinação aos filhos, sustentando que "não há estudos   que confirmem" esse cenário. "Não sei se, de facto, está a   aumentar, até porque o número de crianças vacinadas [cerca de 95%] tem-se   mantido constante", diz.
 
 Há uma lei de 1962, que nunca foi revogada, em que apenas são obrigatórias as   vacinas contra o tétano e contra a difteria", afirma Graça Freitas,   acrescentando, no entanto, que "quem recuse uma vacina do PNV tem de   assumir essa responsabilidade". Nos centros de saúde, os profissionais   têm instruções para informar os pais da importância das vacinas. Se houver   recusa, há um termo de responsabilidade para assinar. De qualquer forma, a   Direção-Geral de Saúde tem poder de tornar uma vacina obrigatória, caso haja   uma doença grave que reapareça.
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